sábado, 8 de janeiro de 2011

Janeiro | Mostra Coletiva Grão Comum

O Coletivo Grão Comum apresenta o seu repertório no Espaço Muda durante o mês de janeiro, aproveitando a efervesciencia do 17° Janeiro de Grandes Espetáculos. São quatro monólogos onde cada artista elaborou uma criação própria, articulada ao histórico da sua formação com as referências estéticas, filosóficas, poéticas e técnicas de sua carreira. 

São eles: Abanoi - desse lado onde estás (Júnior Aguiar), Mucurana - de mundo afora e história adentro (Asaías Lira), Delicado (Daniel Barros) e MARéMUNDO (Arthur Canavarro).


Terça-feira 11 de janeiro | Delicado - Daniel Barros


DELICADO expõe uma tragédia brasileira. Daniel Barros se debruçou sobre o universo da obra de Nelson Rodrigues e o foco temático retratado caiu sobre a questão da moralidade. 

Assim, o espetáculo é a confissão do personagem Eusébio, filho de Macário e Dona Flávia (mãe de sete filhas). Eusébio simboliza a natureza pura do ser humano e as conseqüências dramáticas do seu destino influenciado pela repressão, pelo machismo exacerbado e pelo preconceito de toda uma sociedade. Pois, Eusébio aprendeu: a moralidade é basicamente condenatória. 

A encenação fala das convenções tecidas pela moral, coloca em questão a natureza do nosso espírito perguntando: nascemos puros e bons? Somos esses seres generosos e benevolentes ou na verdade descobrimos que não existe bondade natural e que a delicadeza acabou... Somos egoístas, ambiciosos, agressivos, castradores, cruéis, precisamos do dever para nos tornarmos seres morais? 

Qual natureza possui Eusébio? Sua existência contraria o olhar viciado e cheio de curvas da instituição familiar e da própria sociedade que macula a natureza humana com um machismo exacerbado, retrato de uma sociedade fálica que continua a gerar uma opressão secular sobre a mulher e sobre a própria questão (contraditória) das sexualidades.
 

Terça-feira 18 de janeiro | Abanoi - Júnior Aguiar

                                                                                                                           
ABANOI - desse lado onde estás interliga falas contemporâneas a vozes ancestrais. O espetáculo de Júnior Aguiar conta a seguinte história: Numa reunião, um deus dotado de inteligência é assassinado com uma mistura. Mas do corpo do deus surge um fantasma que reaparece para lembrar tudo o que aconteceu. 

Através do tempo, o fantasma relembra coisas que não podem ser esquecidas e encarna o anseio da liberdade, não só da pátria, como do próprio ser humano e, principalmente, de todos os povos oprimidos e humilhados. 

No momento de decifração dos textos identificamos uma mesma voz unir referências seculares, num legítimo jogo de intertextualidade que coloca em diálogo: os brasileiros Augusto dos Anjos (1884-1914) e Machado de Assis (1839-1908); o africano Patrice Lumumba (1925-1961); o grego Nikos Kazantzákis (1883-1957) e Nur-Aya nascido na Mesopotâmia( XVII a.c.) cujo texto foi escrito originalmente em tábuas de barro. É para ocupar a memória e o coração. 

A estreia da primeira temporada de Abanoi aconteceu no dia 23 de maio de 2009 realizando até o presente momento 25 apresentações. Ganhou os prêmios Melhor Sonoplastia, Melhor Ator e  Melhor Projeto de Pesquisa na III Mostra Capiba de Teatro (SESC – CASA AMARELA). 


Terça-feira 25 de janeiro | Mucurana- de mundo afora e história adentro - Isaias Lira

                                                         
MUCURANA - de mundo afora e história adentro mostra a passagem de um peregrino contador de histórias que atravessa o seu país carregando apenas uma bolsa e dentro dela: causos, lendas e cordéis que costuram com a sabedoria popular retalhos da nossa identidade brasileira. 

Mucurana canta, dança e relembra provérbios, trazendo a tona o conceito simbólico e ancestral do homem sábio que fala ao povo. O espetáculo defende a tradição do contador mambembe de histórias, fazendo engordar o discurso grandioso desta gente brasileira. Mucurana que fala ao povo: alerta o oprimido, faz orgulhoso o preto e também o artista pobre que sempre se posiciona no tabuleiro da fome, da necessidade e da esperança! Suas palavras dizem do preconceito, do dinheiro e do lixo. Suas frases ainda falam do Brasil descoberto pelos índios, das estrelas, da esperança e da liberdade. 

O espetáculo reafirma o interesse de Asaías Lira (Zaza) em apresentar com “os pés descalços” a condição humana de um povo, que com muito pouco, consegue expressar a dimensão da sua existência. A estreia do espetáculo foi no dia 28 de novembro de 2009 no Mercado de Casa Amarela (Recife/Pernambuco) realizando até o presente momento 10 apresentações.


Terça-feira 1° de fevereiro | Marémundo - Arthur Canavarro

        
MARéMUNDO conta a história de Beira-mar. É a odisséia de um pescador pelo desconhecido, atravessando o oceano, por crer na existência de uma ilha que ele precisa chegar. No seu universo, o mar não é simplesmente uma realidade física e biológica, mas povoada por seres humanos e não-humanos, por monstros e divindades e navegá-lo para além do horizonte pode ser visto como produto do desespero e do espanto.  

É uma narrativa sagrada que vai além dos heróis, dos monstros marítimos, das histórias de sereia e dos desafios irreais. Este homem, na beira-mar, pensa que navegar é preciso porque quando somos surpreendidos, quando acontece algo inesperado ou imprevisível, quando o significado costumeiro das coisas, das ações, dos valores ou das pessoas perde sentido, mudamos ou precisaríamos mudar de rumo para entender o porquê de tudo acontecer.

Fotos: Juan Guimarães 

Todas as terças de janeiro
às 22h
ingresso: R$ 10 ou casadinha R$ 30
(válida para os 4 espetáculos)

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